31.5.13

Percursos (1)

De fantasias a realidades


Inverno, fim-de-semana e sossego são provavelmente as três melhores palavras que definem o meu universo cinematográfico de infância. Tal como natal, férias e imaginação seriam também escolhas apropriadas, mas talvez mais específicas e menos abrangentes. O importante a reter é o facto de que a minha relação com a sétima arte começou, na sua maioria, com esta junção de componentes, ou se quisermos, segundo a combinação destes ingredientes, de forma a se puder falar de uma receita saborosa, completa e deliciosamente eficaz.

Não se pode dizer, contudo, que a relação ou a convivência se dava regularmente, bem pelo contrário, a magia de se assistir a um filme era até escassa e talvez por isso sempre envolvida com bastante antecipação e fascínio pelo que se seguiria. Mais uma razão pela qual géneros como a história, a guerra, a fantasia, a aventura, a acção ou a ficção científica se revelavam como predilectos. Tardes inteiras preenchidas e dominadas por universos à parte, mundos antigos ou civilizações ancestrais. Um autêntico regalo para o delírio e para a imaginação, ainda que não restasse depois grande memória ou real e total captação da história, esta mais absorvida com personagens, imagens, sensações e fragmentos musicais. Daí que exemplos de filmes desta altura sejam difíceis de salientar, senão quase impossíveis.

Estas memórias, por outro lado e convém referir, provêm essencialmente dos meios audiovisuais dominantes lá de casa - a Televisão e o VHS - porque, e infelizmente, o verdadeiro veículo e embrião, leia-se sala de cinema, era pouco frequentado, pautado unicamente uma ou outra vez em largos meses. Não existem inclusive muitas recordações de filmes assistidos neste tipo de espaços tão queridos e tão próprios desta arte, excepção feita talvez a Parque Jurássico ou a O Rei Leão (curiosamente dois exemplos que me marcaram e que foram alvos de inúmeras repetições). Serve como desculpa parcial a única sala que existia na cidade, ou o reduzido número de estreias semanais. Nada, no entanto, que o arrependimento hoje não reclame, apesar de outras artes (literatura e afins) o tenham reivindicado para si mesmas. Na altura compensou e, sobretudo, equilibrou a ânsia de histórias e escapes visuais.

Anos mais tarde, à beira de uma mudança de vida, e após este ritmo anual de pouco cinema (mais em casa e, repito, mais de memórias e de antecipação que propriamente muitos filmes), a situação inverte-se e o que era então curto tornou-se abrangente e, acima de tudo, recheado de vontade e de procura de um suposto tempo perdido. Primeiro, numa fase mais de entretenimento e prolongamento dos gostos pessoais (Braveheart - O Desafio do Guerreiro, A Vida é Bela, Mystic River, Kill Bill e O Labirinto do Fauno constituem aqui exemplos ou descobertas de maior estima), depois por uma captura e exploração de todo um cinema menos comercial e mais artístico, digamos (Kubrick, HitchcockChaplinKurosawaLeone ou até Tarkovsky, BergmanFellini, entre tantos outros, são autores ou pedras fulcrais desta fase).

A concretização de todos estes desejos deveu-se e muito à dinamização de meios como o DVD e, sobretudo, a Internet, que do pé para a mão, nos forneciam toneladas de informações e, porque não, acesso integral e exclusivo ao que foi, largos anos, tão antecipado. Listas foram feitas e um novo horizonte se deparava repetida e gradualmente à minha frente. Etapas alcançadas, países descobertos e décadas sugeridas. Depois foi tudo uma questão de paciência, insistência e prazer pelo que a sétima arte, tão altruísticamente, nos oferece. Pelo meio, algumas surpresas, ou melhor, algumas paixões que hoje definem o meu renovado gosto - como o Western (Spaghetti), o Terror ou o Cinema Oriental, nos seus largos espectros e dimensões culturais. No fundo, pode-se dizer, que a maturidade e o estudo conduziu a um aprofundamento e a uma melhor compreensão do que os filmes proporcionam, assim como a um maior leque de opções, ilegitimamente adquiridas muitas vezes, é certo, mas com um respeito e uma intenção que de outro modo nunca seriam saciados. Paralelamente, ainda se foi colmatando talvez a minha maior falha - idas regulares e semanais a uma sala de cinema.

Numa curva ascendente e cada vez mais ponderada, sustentada e equilibrada, a selecção de filmes hoje em dia se dá criteriosamente por década, por país, por autor, por género, entre outros, sem qualquer restrição ou preconceito, e seja numa sala de cinema (que muito prezo regularmente), ou em casa, no conforto do lar. Portanto, o meu percurso por esta arte tem sido em crescendo, pautado de início pela nostalgia, pela magia e pela antecipação de uma boa história, passando por uma fase de maior consumo e de maior risco, até a um actual estado de solidez e de interesse crítico do papel do cinema em si mesmo. De E.T. - O Extra-Terrestre a Metropolis, de Parque Jurássico a O Bom, o Mau e o Vilão, de TitanicE Tudo o Vento Levou, de O Senhor dos Anéis a Ben-Hur, de Matrix a 2001: Odisseia no Espaço, ou ainda de O Rei LeãoBranca de Neve e os Sete Anões, entre muitos muitos mais, assim se fez, e se faz, o meu trajecto por este mundo de fantasias e realidades.

Texto originalmente publicado na iniciativa 'Wandr'rin' Stars' do blogue Wand'rin' Star

30.5.13

Bandas Sonoras (6)

The Magnificent Seven (1960), John Sturges


Faixa e respectiva banda sonora fabricada e conduzida por Elmer Bernstein, naquele que é, indubitavelmente, um dos seus mais famosos trabalhos de composição no que à sétima arte diz respeito. A força que incute, a imprevisibilidade e a dinâmica alternada fazem deste tema em específico um autêntico hino à aventura e aos grandes Westerns de outrora. The Magnificent Seven só fica a ganhar (e de que maneira) com esta associação imortal de música e identidade.

27.5.13

Sergio Leone - A Reinvenção do Western



Sergio Leone é um cineasta que, para muitos, tem o seu nome gravado no panteão dos grandes realizadores que a sétima arte já nos presenteou. É, contudo, controverso e popular em demasia para outros, o que resfria a euforia e lhe retira talvez um pouco a aclamação e o respeito que, merecidamente, deveria ter. Nada de grave, aliás sendo a unanimidade nada saudável, a crítica e o desrespeito de certas elites até o favorecem, senão veja-se a legião de fãs e o sub-género Spaghetti que hoje o homenageiam e o dignificam um pouco por todo o lado.

Pode-se dizer, de facto, que o realizador, outrora assistente de câmera de Vittorio De Sica, deixou a sua marca indelével no cinema sobretudo com a reinvenção de um género - o Western Americano (à data moribundo e à procura da sua própria identidade) - através do denominado Western Spaghetti, que teve o seu começo sensivelmente em meados dos anos 60 com o seu filme Per un Pugno di Dollari (o qual Clint Eastwood protagonizou). Com a ajuda posterior de outros cineastas que alimentaram e expandiram as marcas deste tipo de cinema, a recriação dá-se, em traços gerais, pela implementação de um estilo altamente amplificado e irreverente, e por isso facilmente identificável e reconhecido, em que as histórias e as respectivas personagens se sobressaem não pelo encanto e pelo classicismo próprio dos Westerns Americanos, mas sim pelo aspecto grotesco, simplista e violento que povoam amiúde as desérticas paisagens.

Autênticas orquestras ou sinfonias, estes filmes iniciais também são conhecidos pela sua ponderada e alternada utilização de música, esta que detém um papel fundamental na tal estilização do sub-género, e no qual Ennio Morricone foi o mais proeminente de todos (sobretudo na sua parceria lendária com Leone). A forma como varia entre o êxtase e o silêncio total faz com que a emoção vibre e o entusiasmo se projecte, daí que o público, mais que a crítica, se reveja incondicionalmente com os filmes e os seus anti-heróis, ou a humanidade que eles evidenciam nas boas e nas más acções. Mas os críticos, americanos inclusive, também se renderam e se rendem (apesar de só mais tarde, anos após as estreias comerciais), seja pela filmagem em si e no que isso potencia, seja na montagem caracterizada e dilatada ao mais ínfimo pormenor. Do close-up (mecanismo inovador e preponderante nas expressões faciais dos protagonistas) até às panorâmicas (exímios retratos de uma América sonhadora, mas realista e desprovida de acessórios o quanto baste), Sergio Leone proporciona fabulosas sequências, harmonicamente equilibradas e humanamente trabalhadas, que têm na câmera e no enquadramento a sua verdadeira razão de existência.

A consolidação do sub-género foi-se então materializando e se propagando, no seu núcleo pelas obras de Leone, mas também por outros realizadores e por outros filmes que, aqui e ali, extravasaram o estilo e a sua direcção temática, não fosse a evolução um dos factores essenciais para a sobrevivência de um produto e de um sistema. Inevitavelmente chegou-se a um ponto que o Western Spaghetti definhou, restando então não mais que recordações e uma herança de centenas de filmes produzidos na sua maioria entre Espanha e Itália. A reter, acima de tudo e sem desprimor para outros, está Sergio Leone e uma respectiva e brilhante carreira. Curta, é certo, mas recheada de solidez, genialidade e intemporalidade. Os seus filmes, no seu todo contam-se apenas 7 longas-metragens como realizador, das quais 5 são Westerns (ou 6 se contarmos com o Il Mio Nome è Nessuno em que não é oficialmente um dos realizadores), espelham perfeitamente uma evolução, uma constante tentativa de aperfeiçoamento e de ambição (veja-se o triunfo de filmar mesmo na América com o seu C'era una volta il West). Facto que, dentre todas as nuances interpretativas e de análise pós-obra, confirma a revolução sobre um género e sobre uma mecânica de filmar, definindo e catapultando uma imagética e sonoridade estilísticas para outros países e décadas.

A título de exemplo e como legado tem-se, nos dias de hoje, autores como Quentin Tarantino e Robert Rodriguez nos seus famosos pastiches e na libertação de certas convenções, assim como na extrema referência que sofreu e ainda sofre o seu mais prestigiado filme - Il Buono, il Brutto, il Cattivo. A influência artística estende-se também a outros géneros, como muito bem prova o último filme de Leone ou a sua incursão pelo mundo dos gangsters - Once Upon a Time in America - que assume um estilo aproximado e que transporta para outro cenário e outras épocas a mesma dinâmica de narrar e filmar uma história. Poucos cineastas alcançaram a destreza e a inteligência de Leone no acto de desconstruir um género (e o correspondente sonho americano) ao mesmo tempo que retém e sustém uma total melancolia e saudade em revalidá-lo, a tal ponto de actualmente ser impossível dissociar, senão destacar, os seus filmes do Western em geral.


Filmes em destaque:
Per un Pugno di Dollari (A Fistful of Dollars) (1964), Sergio Leone
Per Qualche Dollaro in Più (For a Few Dollars More) (1965), Sergio Leone
Il Buono, il Brutto, il Cattivo (The Good, the Bad and the Ugly) (1966), Sergio Leone
C'era una volta il West (Once Upon a Time in the West) (1968), Sergio Leone
Giù la Testa (A Fistful of Dynamite) (1971), Sergio Leone
Il Mio Nome è Nessuno (My Name Is Nobody) (1973), Tonino Valerii e Sergio Leone

Texto originalmente publicado na iniciativa 'O meu ciclo' do blogue A janela encantada

26.5.13

Manual de Regras (4)

Quem conta um conto, acrescenta um ponto.

Rashômon (1950)
Rashômon - Às Portas do Inferno, Akira Kurosawa

24.5.13

Mystic River (2003)

Mystic River, Clint Eastwood


A cidade como que vive e sobrevive na sua quietude e paciência eternas. As pessoas caminham e se cruzam entre si, preenchendo as ruas, o espaço e os vazios da temporalidade. Na sombra está o rio, o Mystic, que corre sem pressas e sem problemas, sistematicamente, qual cenário belo e fixo. Contempla calmamente o panorama citadino e a vida dos intervenientes da sociedade em que se envolve. Circulando e assistindo ao dia-a-dia, o rio é, porventura, a única testemunha de algumas situações e acontecimentos graves ou preponderantes na charneira que por vezes se desenha à sua frente, incauta e despropositadamente. O rio sabe os segredos mais obscuros, mais esquecidos, e portanto, sabe quase sempre mais que nós, transeuntes e meros peões numa malha que por si só se perde e se emaranha na complexidade da vida.

É neste cenário e sobre este prisma que a história deste filme se desenrola. Divide-se, desde logo, em duas - a primeira, na infância e na inocência própria desta fase. As brincadeiras são muitas, as traquinices ainda mais, e, logo, não será de estranhar que um mero encontro despoletará a mais vil recordação e, infelizmente, a fractura decisiva. Acaso ou não, a situação mudará para sempre a vida dos três amigos, os três protagonistas do filme, à data parceiros inseparáveis. Na segunda parte da história, e transportados anos mais tarde, constatamos que a amizade antes inquebrável se situa agora no limiar entre a memória e o simples reconhecimento. A vida concede voltas, e o seu curso toma direcções díspares, pelo que os três amigos, ainda que vivendo sob o mesmo tecto urbano, assumem posturas e profissões sociais distintas. Os cruzamentos pelo bairro e pela vizinhança revelam apenas e só lembranças e (des)apreço mútuo. A reter, por isso, estará nesta fase, e inequivocamente, a família e o quotidiano que se adensa, pelo que a infância reflecte única e exclusivamente uma nostalgia do passado, vivido sob a alçada do bairro e do rio transversalmente atento.

Entretanto, outro acontecimento se dá, e, uma vez mais, o Mystic é testemunha. Evocando certas memórias, é a partir deste ponto que começará então o mistério e o drama profundamente enraizados e escondidos de há muito. A suspeita, o medo e a incerteza modelam o espaço e, sobretudo, o subconsciente. Como se aquele fatídico dia e o acontecimento consequente nunca pudesse cair no total e absoluto esquecimento. De facto, é evidente, certos traumas permanecem e se demarcam, definindo e construindo identidades e amizades socialmente precipitadas, ao ponto de a confiança dar lugar à acusação e ao desrespeito quando é conveniente. É triste, mas no fim de contas verdadeiro e humano, por mais atroz e cruel que isso possa parecer.

No fundo, três amigos, três adultos e três casais formam a estrutura e a evolução do próprio filme (e da própria vida), sem retorno e sem emenda. Particularmente, determinam a história e o drama presente, que entrelaçado na vivência e na actividade de cada um se desenhará segundo os contornos da personalidade e da crença individuais. Nada resiste à mudança e ao tempo, pelo que o crescimento é inevitável, no bom e no mau sentido, e o que antes era duvidoso e desconfortável, agora pode-se revelar certo e determinante. Ou não, quem sabe?! Aqui, apenas o rio, o Mystic, que é o elo entre as recordações e os acontecimentos presentes, é como que a metáfora das alegrias e das mágoas, as quais aparente e temporariamente ficam submersas, mas que face a actuais tragédias regressam à margem e à superfície com uma brutalidade e crueldade inesperadas. Resta o discernimento, a ponderação e a calma, tão difíceis nestes momentos.


Clint Eastwood, apoiado por uma excelente fotografia e por uma grande banda-sonora, filma o drama numa cadência sombria e policial, e com uma contenção e uma intensidade notáveis. Retrata e explora tanto as nuances psicológicas dos seus personagens, quanto a normalidade e a frieza do quotidiano de um bairro, onde todos se conhecem e onde todos estão, intimamente, prontos a apontar o dedo. Travellings sobre o rio acentuam a sua tal presença assídua, os planos fixos, sinceros e solidários com o argumento demonstram uma opção certa, tal como ainda os ligeiros movimentos de câmera denunciam particulares sequências e momentos fracturantes. A título de exemplo, a cena da revelação da morte de uma personagem e da consequente tomada de conhecimento paternal é tremendamente reveladora deste aspecto. Arrepiante. Grande cena, e a propósito, grande Sean Penn.

Mystic River se assume assim, qual rio profundo, como um dos mais ocultos e intensos dramas da década transacta. De emoções fortes e com uma densidade e profundidade destacáveis, é nas personagens, as tais seis pessoas (em sublimes interpretações), que verdadeiramente se define, ainda que, e sempre, a contenção e a respiração que Eastwood é capaz de sustentar o abrilhante ainda mais. Por tudo isto, resta-nos somente mergulhar na realidade, por mais cinzenta e violenta que ela seja.

Texto originalmente publicado na iniciativa 'O Cinema dos Anos 2000' do blogue Keyser Soze's Place


Jorge Teixeira
classificação: 9/10

19.5.13

Conversas Anónimas (1)

Oblivion (2013), Joseph Kosinski


Sujeito X: Já viste o Oblivion?
Sujeito Y: Já. Vi-o no fim-de-semana passado.
X: E então, gostaste? Qual a tua opinião?
Y: Mais ou menos. O filme até começa bem, tem ali boas premissas, o problema é que no fim se resume ao mesmo de sempre. Nada de novo.
X: Pois, também senti isso. Acaba por ser até frustrante, dado o potencial do conceito.
Y: Sim, tem potencial, ainda que tivesse de levar algumas voltas para não cair em algo já tão batido. Mas pronto, nem tudo é mau, eu gostei, por exemplo, dos cenários e da fotografia. Retratam bem o planeta destruído. Os efeitos especiais então nem se fala, muito bons.
X: Estão excelentes, sem dúvida. 
Y: Mas atenção, não gosto de me deslumbrar com isso, nem tão pouco prestigiar um filme por essa vertente, embora claro que possa constatar o bom trabalho realizado nesse campo. Normalmente neste tipo de discussão faço um esforço e prefiro, numa perspectiva, avaliar a história e a sua adaptação, noutra, o aspecto inovador da realização. O resto é puramente acessório na maioria dos casos.
X: Sim percebo o ponto de vista, de qualquer modo nunca se pode esperar algo de verdadeiramente inovador neste tipo de filmes mais comerciais, não é?! Penso que se deve apreciar um filme segundo o objectivo para o qual foi realizado, ou para o tipo de público para o qual é direccionado.
Y: Claro, há que ter isso em conta, mas se reparares até assim não deixa de ser mais do mesmo.
X: Nisso estou de acordo.
Y: Por outro lado, é sempre bom termos em mente a verdadeira dimensão do cinema, senão às tantas estamos sistematicamente a tentar descobrir diferenças e a tentar qualificar um produto numa escala redutora, quando existe todo um mundo lá fora e diversas outras formas de abordar qualquer tipo de argumento. Há que ter noção, acima de tudo, da capacidade e da abrangência do cinema, que não se restringe apenas a Hollywood. Por isso, e para não escorregarmos para universos particulares, convém sempre equilibrarmos e, porque não, compararmos este com aquele filme, independentemente se são para o mesmo público ou não. Resfriamos muitas vezes euforias, assim como reconhecemos noutras situações mais-valias que não percepcionamos logo à primeira.
X: Compreendo. São visões. Pessoalmente, gosto de separar as águas, ainda que no final se fale sempre do mesmo, daquilo que, no fim de contas e fora de divergências, tanto gostamos - filmes. Mas voltando ao Oblivion, reténs alguma coisa que possa ser lembrado no futuro?
Y: Isso é sempre incerto, depende de muitos factores, inclusive exterior ao cinema. Eu diria que, ainda que se trate de um filme de ficção científica, não. Será um filme de domingo à tarde, para passar na televisão e para entreter um maior número de pessoas. Nada mais.

Nota: O conteúdo destas "Conversas" não reflecte, necessariamente, as opiniões dos autores do blogue. 

18.5.13

1 Tema, 3 Filmes (6)

Voyeurismo

Rear Window (1954)
Janela Indiscreta, Alfred Hitchcock

The Conversation (1974)
O Vigilante, Francis Ford Coppola

The Lives of Others (Das Leben der Anderen) (2006)
As Vidas dos Outros, Florian Henckel von Donnersmarck

por Jorge Teixeira e Pedro Teixeira

15.5.13

Manual de Regras (3)

O segredo é a alma do negócio.

The Prestige (2006)
O Terceiro Passo, Christopher Nolan

13.5.13

Take Cinema Magazine de regresso



É com enorme prazer que anunciamos o tão aguardado regresso da Take Cinema Magazine, uma revista online de cinema que reúne, entre outros, uma excelente fatia da nossa blogosfera cinéfila nacional. Nesta 30ª edição o destaque vai para um design renovado e por uma aposta em temáticas específicas, no caso dedicado ao Festival de Cannes e a alguns anteriores vencedores da prestigiada Palma de Ouro, estes abordados, a convite, pelo Círculo de Críticos Online Portugueses. Razões mais que suficientes para ler cada página desta edição - aqui.

11.5.13

A Tale of Two Sisters (2003)

História de Duas Irmãs (Janghwa, Hongryeon), Jee-woon Kim


Desde o início é evidente que estamos a assistir a algo que de básico e de fácil não tem nada, antes pelo contrário, estamos na presença de um processo que envolve mistério e suspense em doses extremamente apelativas. Espécie de enigma, que flui e se enleia, passo a passo, sob um claro manto de desconfiança e desconhecimento sobre aquilo que se vê e se vive temerosamente. Nesse sentido, o filme revela-se bastante desafiante não só pela tentativa de resolução do problema presente, mas também pela realização virtuosa e cativante que se movimenta e se conjuga diante de nós, qual jogo do gato e do rato (às escondidas).

Restringindo-nos à narrativa, estamos, antes de mais, perante uma história ou tragédia familiar, em que cada membro deste escasso núcleo detém uma importância vital. Duas irmãs, o pai e a madrasta são as únicas peças em movimento e em relacionamento constante, de tal forma que as cenas parecem repetir-se, aparentemente, pois na verdade essa insistência vai acrescentando e solidificando as empatias e, sobretudo, as divergências. À medida que se avança na rotina, os confrontos vão-se adensando, em particular entre a madrasta e as (inseparáveis) irmãs, que não alcançam tudo o que testemunham, ora de dia em constantes dúvidas e suspeitas, ora de noite sobre terríveis calafrios e adversidades. Facto preponderante e premonitório daquilo que, cada vez mais, se antevê ansiosamente como (in)evitável.

E é por aí que o argumento é explorado, na surpresa e na alternância entre o visível e o oculto, ou entre realidade e imaginação, em que a ameaça não é física e materializável, antes desconhecida e inquietante. No fundo, o que prevalecerá mais? Aquilo que vemos e receamos antever nos sistemáticos episódios? Ou aquilo que não percebemos e não encaixamos no quebra-cabeças que, crescentemente, se formaliza de frente às protagonistas e ao espectador? Questões dúbias e desconfortáveis, não fosse existir uma certa ambiguidade e surrealismo no próprio filme. Sendo o terror o género mais visado, talvez aqui o efeito fantasmagórico até defina melhor as sensações psicológicas, e não explícitas, que gradualmente são transmitidas. O drama é, contudo, também atingido, pelo que se pode dizer que a película tem mais essa exemplar capacidade, a de atravessar diversos géneros e ambientes sempre de um modo contínuo e diluído o quanto baste.

Cada cena é, então, demasiado importante para o domínio e para a compreensão dos acontecimentos passados, ou daquilo que aconteceu e marcou terrivelmente esta família. Numa total desarmonia entre os membros presentes na casa, todos os passos dados são essenciais, daí que Ji-woon Kim assuma cada sequência como se fosse a última, tal a força e a dinâmica imprimidas nos ângulos e movimentos de câmera. Tal como o simbolismo que é assumido, frequentemente, em cada plano, na cor e na luz, quase como se fossem quadros ou pinturas (a fotografia é destacável) que detêm mais códigos que imagem ou visão propriamente dita. A decifração não se dá, portanto, apenas e só no papel ou naquilo que se interpreta narrativamente, mas também tendo em conta o visual ou aquilo que vemos e reinterpretamos dada a posição e a subjectividade da câmera. Resumindo, há como que diversas camadas de representação e dedução que o próprio argumento possui, e sobretudo, sustenta.

História de Duas Irmãs é, no fim de contas, um parente próximo dos filmes de David Lynch, em que a acção está mais fraccionada que definida ou até estruturada, e em que o factor medo ou o terror, sob uma atmosfera completamente gélida e arrepiante, está bem presente e suportado pela exemplar componente técnica. Se por um lado, é de segredos que o filme vive e subsiste, é, acima de tudo, através do encadeamento deles e da forma como se vão somando (e subtraindo) que o mesmo se torna altamente recomendável. Um exímio exercício formal e narrativo, que acaba por ter na união das duas irmãs a sua verdadeira alma e inteligência.

Texto originalmente publicado na iniciativa 'O Cinema dos Anos 2000' do blogue Keyser Soze's Place


Jorge Teixeira
classificação: 9/10

8.5.13

À Pergunta da Resposta (2)

Pergunta:
Um filme que nos transmite a esperança e a perseverança de nunca desistir ou abandonar uma causa?

Resposta:
(na resposta à questão está uma palavra a reter) 

(na resposta à questão está uma palavra a reter)

(na resposta à questão está um nome a reter)

Pergunta:
Um filme que nos transmite a esperança e a perseverança de nunca desistir ou abandonar uma causa?

Resposta:
A resposta está nas pistas ou no que elas sugerem.
Adivinha qual o filme?
(soluções posteriormente nos comentários)

(os textos e as publicações envolvidas nas pistas são de consulta e leitura obrigatória)

3.5.13

Citações (9)

Unbreakable (2000), M. Night Shyamalan


Elijah PriceYou know what the scariest thing is? To not know your place in this world. To not know why you're here... That's... That's just an awful feeling.
David DunnWhat have you done...?
Elijah PriceI almost gave up hope. There were so many times I questioned myself...
David DunnYou killed all those people...
Elijah PriceBut I found you. So many sacrifices, just to find you.
David DunnJesus Christ...
Elijah PriceNow that we know who you are, I know who I am. I'm not a mistake! It all makes sense! In a comic, you know how you can tell who the arch-villain's going to be? He's the exact opposite of the hero. And most times they're friends, like you and me! I should've known way back when... You know why, David? Because of the kids. They called me Mr Glass.

1.5.13

Cenas (4)

Lady in the Water (2006), M. Night Shyamalan


Belo exemplo de como começar uma história, de como introduzir uma temática e um universo paralelo. Se poucas dúvidas existiam de que Shyamalan é um exímio contador de histórias e um hábil explorador de ambientes e atmosferas (pesem embora os seus últimos trabalhos), esta cena retira toda e qualquer desconfiança que possa haver do senhor. Tremenda na forma como inicia o conto, apresenta as personagens, insere a narração, contempla o espaço e dá tempo à montagem. Brilhante em como ainda nos oferece uma clara harmonia entre a própria história e a música, ou até entre o desenho e a meticulosa realização. Grande cena.