14.9.13

Conversas Anónimas (3)

La Cage Dorée (2013), Ruben Alves


Sujeito X: Não sei se já foste ver A Gaiola Dourada ao cinema, mas o que achas do número recorde de espectadores que já o viram? É bom sinal ou sinal dos tempos?
Sujeito Y: É bom sinal, claro. Acho muito bem. Gosto imenso que o cinema em Portugal continue a ter espectadores, ainda que estejamos numa fase descendente, e se possível até que tenha mais sucessos como este. É um caso de estudo.
X: Mas então, já viste o filme?
Y: Sim, já. E talvez perceba melhor, por isso, a enchente que tem tido pelo país fora. Os resultados semanais têm surgido muito por culpa do "passa a palavra", do aconselhamento entusiasmado a familiares e amigos, que se identificam e que não resistem a falar do filme.
X: E, no fim de contas, o filme é mesmo bom ou é dos tais que entretém e diverte apenas e só?
Y: Eu acho que é bom, ainda que não seja nada de extraordinário. Diverte, sem dúvida, mas também tem o seu cunho de aprendizagem, de envolvimento numa cultura e numa geração em conflito com outra. O filme é francês, mas tem tanto ou mais de português, o que diz tudo.
X: E não será fácil por isso? Essa identificação que, logo à partida, tem por parte de um povo não o catapulta de imediato para o êxito que tem tido?
Y: Sim, claro, é óbvio esse reconhecimento, tão português de uma geração e de um tempo tão difíceis, onde emigrar era a única solução e onde as dificuldades que se adivinhavam eram apenas o início de uma longa e amarga vida de estranheza. Uma vida por vezes de não pertença a qualquer lado, porque se acaba por desligar-se de um país, o de origem, para se habitar noutro que nunca será igual, inevitavelmente, ao primeiro.
X: Portanto, trata-se de um filme feliz, fruto da história e das acções de um país. Não terá ainda assim outros valores ocultos que o sustentam por outro lado?
Y: Com certeza. A competência do realizador e em geral de toda a produção é evidente. Estamos perante um filme que executa, e se executa, muito bem. Nada a apontar. Aliás, sou daquelas pessoas que não gosta de o descredibilizar só porque tem como principal objectivo entreter ou distrair um povo que, nos dias de hoje, vive sob uma grande crise. Pelo contrário, gosto de pensar que são estes exemplos que nos completam no dia-a-dia, que nos unem mais e que nos relembram as pessoas ou os portugueses que orgulhosamente somos. Sem máscaras, sem artifícios e sem preconceitos de criticarmos (e de gostarmos) dos jeitos e trejeitos que temos, tão simplesmente.
X: Nesse sentido, desvalorizas algumas críticas mais acesas e desprestigiantes?
Y: Embora as perceba, sim, desvalorizo completamente. Oxalá houvesse mais exemplares destes, com esta capacidade de mover as pessoas. E, a meu ver, o cinema só ganha com isso.

Nota: O conteúdo destas "Conversas" não reflecte, necessariamente, as opiniões dos autores do blogue. 

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